O tempo foi passando e o mito foi aumentando, até que um dia finalmente pude ouvir pela primeira vez Casa de Rock (1976).
Eu não tinha a menor idéia de que naquele momento estaria escutando aquele que eu consideraria o melhor disco de rock and roll de nossas terras.
Sim, para mim é o melhor disco de rock and roll de todos os tempos, o maior.
Casa das Máquinas é o mito, o sonho e a verdade do mundo (podre) do showbusiness, se é que algum dia tivemos showbusiness por aqui. Não deu tempo.
Bem rápido: o Casa das Máquinas é de uma época de um Brasil atrasado, dominado por uma ditadura nojenta e vergonhosa como qualquer outra no mundo, que travava e censurava as manifestações culturais de nosso país, fazendo também com que quase tudo o que acontecia nos EUA ou europa chegasse aqui de forma tardia.
Não podemos de forma alguma ridicularizar os poucos e bons músicos brasileiros daquela época, esses caras são verdadeiros heróis de nossa música que, por um curto período, escreveram as poucas páginas da história do rock and roll de nosso país.
Nada era favorável: não havia estrutura adequada para as bandas (bons equipamentos, palcos descentes, casas de shows, estúdios de qualidade e por aí vai), não havia grana para ser investida nesse mercado. Bom, talvez até houvesse sim, mas tal qual os dias de hoje (ou pior) a corrupção era enorme.
Para se ter uma idéia, hoje em dia nós temos maravilhosos Sescs, alguns deles abrigam pequenos ou médios shows com total conforto para público, músicos e equipe técnica.
E para finalizar, o público era ruim. O Brasil estava se transformando de um país agrário para um país industrializado, os ídolos por aqui eram resquícios daqueles dos programas de rádio, não havia uma cultura rock and roll, é claro, como nos EUA por exemplo.
Eu sei que não dá para fazer comparações como essa, mas quero apenas chegar ao ponto que, quando o rock começou a engrenar em nosso país logo em seguida ele praticamente morreu, na virada dos 70's para os 80's, por questões óbvias como o surgimento de outros movimentos que eram modismos da época.
Por isso reforço minha idéia: esses são verdadeiros heróis. Olhe para trás e veja quem são considerados nossos "reis" e "rainhas": Roberto Carlos e Rita Lee.
A Rita Lee começou a década com o pé direito, fazendo albuns incríveis mas depois a pilha acabou e se transformou em uma piada do rock.
Enfim, é triste saber que poderíamos ser mais e melhor se não fossem alguns percalsos de nossa história que travou o progresso cultural, social e econômico de nosso Brasil; potencial para isso temos e muito, basta fazermos da forma correta.
Vamos ao que interessa: logo de cara o play abre com a faixa-título, uma porrada no pé da orelha que é um ode ao rock and roll e mais nada. Nem precisa mais que isso.
O batera Netinho (eterno ex-Incríveis, não sei porque ninguém escreve "ex-Casa das Máquinas") destrói em sua batera gorda, tanto quanto a de Jonh Bonham, juntamente com o segundo batera, Marinho Thomas.
Pisca puxa o riff de Pra Cabeça, acompanhado pelo vocal matador de Simbas, um sujeito que mais parecia servente de pedreiro do que vocalista de banda rock, mas isso não interessa nem um pouco, o cara tinha um gogó violento, o melhor vocalista de rock and roll daquela década.
As letras bixo-grilo davam o tom e faziam a galera viajar e dizer, "é verdade, podis crê mermão".
Certo Sim, Seu Errado diz "quem é você, pra dizer o que eu devo fazer... sentir... pensar". E não é que os caras tinham total razão? Isso é tão certo quanto dois e dois são quatro.
E o que dizer de Stress?? Cara, isso é muito rock and roll, véio!! Pra quê quebrar a cabeça se é apenas uma noite de rock and roll??
Londres, Doutor Medo e Essa É A Vida resumem bem o que é o verdadeiro rock and roll: curtição, lazer e euforia. Se você pensa que todo rock and roll tem que ser intelecto e técnico, então continue ouvindo Dream Theater.
Quando escuto Casa de Rock eu quero mais é que o o Caetano Veloso vá para a ponte que partiu, para não escrever outra coisa e sujar a resenha.