Os princípios do Câmara de Eco.

A finalidade do Câmara de Eco é funcionar como modesta referência para aqueles que procuram novos e velhos sons, publicando informações e indicando bons trabalhos merecedores de audição mais atenta.
Da mesma forma que um amigo empresta um CD a outro, faço questão de apresentar a você, internauta amigo e amiga, boas amostras de rock, jazz, progressivo, blues e folk, e com isso, espero, possamos divulgar a música vista como forma de arte e não como um produto qualquer dentro de uma caixinha acrílica.
Abraços e boa diversão!
Lucon

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Ira! - Psicoacústica



















Dizem por aí que o Ira! é a mais paulistana de todas as bandas. Vou além: o Ira! é a mais comprometida de todas as bandas.
Também é clichê dizer que é a banda underground mais bem sucedida. Balela. O Ira! gostou da fama, principalmente depois de passarem por uma fase aparentemente difícil, com o lançamento de Música Calma Para Pessoas Nervosas (1993) e 7 (1996).
O Ira! foi uma banda underground no começo de sua carreira mas o sucesso foi inevitável, ainda mais depois que aderiram ao formato mais que manjado "ao vivo na MTV" e "acústico MTV".
É aquela velha história: é a bênção que aparentemente todas as grandes bandas da atualidade têm que tomar.
Não que eu ache ruim, mas só não entendo como conseguiram acabar com a banda depois de conquistarem o apogeu do sucesso. Talvez seja isso, o maldito sucesso...
Ainda assim continuo achando o Ira! a mais fiel de todas as bandas nacionais, a mais honesta e singela.
Psicoacústica (1988) é o terceiro álbum do Ira!, é o melhor de sua carreira pouco oscilante. Vou além: Psicoacústica é o melhor dos poucos discos do rock brazuca dos anos 80 que valem a pena serem citados, que me desculpem os fãs de Barão Vermelho, Legião Urbana e outros.
Antes que eu seja surrado, serei bastante específico: o Barão Vermelho foi uma banda "pré-fabricada" pelo pai de Cazuza, João Araújo, produtor fonográfico da Som Livre. Ficou ótima depois que o Frejat assumiu a bronca.
Renato Russo virou mártir depois que faleceu e não gosto disso. A mídia brasileira tem a mania de escolher um único indivíduo para associar a ele todos os valores pessoais e artísticos, deixando de lado pelo menos uma dezena de outros músicos e artistas de igual ou maior importância. Também não gosto disso, apesar de considerar o Renato Russo um ótimo cantor e compositor.
Então pergunto: porque será que as grandes emissoras de TV não fazem "especiais" sobra a obra de Arnaldo Dias Baptista, um de nossos grandes heróis vivo, que tanto contribuiu para a história do rock no Brasil em tempos dificílimos?
Faço essa observação para lembrar que Nasi (vocais), Ricardo Gaspa (baixo), André Jung (bateria) e Edgard Scandurra (guitarra) são músicos de altíssimo nível, importantíssimos para a história recente do rock brasileiro.
E foram além com Psicoacústica: quebraram as barreiras do insosso rock anos 80, quando a agulha pousou sobre os sulcos do vinil e dos alto-falantes saíram preciosidades inesquecíveis como Pegue Essa Arma, Rubro Zorro, Farto Do Rock'n'Roll, e a canção que me faz lembrar o "grau" em que eu chegava em casa nos fins de semana, Manhãs De Domingo, um hino do rock para mim, onde Edgard Scandurra destrói e reconstrói a guitarra (como sempre).
Canhoto, um legítimo filhote de Jimi Hendrix.
Depois de Psicoacústica nunca mais o rock brasileiro foi o mesmo - nem diferente. As bandas consideradas grandes são uma merda e as grandes pérolas continuam nas garagens ou tocando em pequenos festivais sem nenhum tipo de apoio, infelizmente.
Certa vez uma grande banda underground fez um clássico. O disco chamava Psicoacústica e a banda, Ira!

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