"Lizard" é um dos albums mais enigmáticos e misteriosos do King Crimson. Particularmente é o que eu mais gosto, apesar de considerar irrepreensível a carreira do grupo. Tal como uma fênix, o Crimson ressurgiu das cinzas quando Robert Fripp reestruturou o grupo em 1970, após o lançamento do segundo album, "In The Wake Of Poseidon". Apenas o letrista, poeta e técnico de iluminação Peter Sinfield continuou com Fripp, que chamou para compor o novo Crimson o vocalista Gordon Haskell (que também tocou baixo em "Lizard" e cantou em uma música em "In The Wake Of Poseidon"), o baterista Andy McCulloch, o flautista e saxofonista Mel Collins (outro que também havia tocado em "In The Wake Of Poseidon") e como convidados especiais o pianista de jazz Keith Tippet e sua banda, composta por Robin Miller (oboe), Mark Charig (corneta) e Nick Evans (trombone), e Jon Anderson, vocalista do Yes, que cantou na faixa-título, em retribuição ao convite recusado por Fripp para juntar-se ao Yes.
As peças estavam postas no tabuleiro e tudo estava preparado para o grupo lançar o album e entrar em turnê, porém Gordon Haskell abandonou o barco quatro dias antes do lançamento do play, seguido por Andy McCulloch, em dezembro de 1971. Depois de passar todo o ano de 1971 sem fazer shows e passar os três últimos meses do ano preparando o disco, Robert Fripp mais uma vez, batalhador como é, recrutou novos músicos e escreveu uma nova página da história do grupo, em 1972. "Lizard" prima pela qualidade sonora e musical, e também pela ousadia. Fripp elaborou uma extraordinária combinação de intrumentos de sopro com dois sintetizadores VCS3 e o Mellotron, presentes em toda a gravação e dando um ar de modernidade e experimentalismo ao som do grupo, sem que possa ser taxado de virtuose. Pelo contrário, o minimalismo característico do grupo agora acentuado pela presença de dois sintetizadores, o piano maluco de Keith Tippet e os arpegios de Fripp apontam para uma nova proposta musical e dão a dimensão exata de que o King Crimson estava mesmo à frente de sua época e completamente centrado em sua música, apesar das incontáveis mudanças de formação, que nunca tiraram o grupo de seu eixo. Não há destaques para "Lizard", ele é perfeito em sua totalidade e deve ser ouvido de cabo a rabo, em sua ordem original.