Os princípios do Câmara de Eco.

A finalidade do Câmara de Eco é funcionar como modesta referência para aqueles que procuram novos e velhos sons, publicando informações e indicando bons trabalhos merecedores de audição mais atenta.
Da mesma forma que um amigo empresta um CD a outro, faço questão de apresentar a você, internauta amigo e amiga, boas amostras de rock, jazz, progressivo, blues e folk, e com isso, espero, possamos divulgar a música vista como forma de arte e não como um produto qualquer dentro de uma caixinha acrílica.
Abraços e boa diversão!
Lucon

domingo, 6 de setembro de 2009

Casa Das Máquinas – Lar De Maravilhas




Estávamos em 1975, a repressão política e o subseqüente cerceamento do direito de expressão eram atos rotineiros e considerados legítimos pelos governantes, Médici (1969-1974) e Geisel (1974-1979). Para quem não era nascido ou era muito pequeno, é muito difícil entender o quadro político e social daquela época.
Somente para exemplificar, não se podia ler aquilo que não fosse do interesse do “Poder” constituído. Eu mesmo, nesse período, somente conseguia ler alguns dos exemplares do periódico e alternativo Jornal Pasquim (que contava com uma equipe de respeito, como Paulo Francis, Tarso de Castro, Jaguar, Ziraldo, Millôr Fernandes, Henfil, Ferreira Gullar e muitos outros.), graças à astúcia do jornaleiro da esquina, que às vezes conseguia esconder um único exemplar antes de a edição ser retirada de circulação. Fazia-se fila de espera para termos acesso aos raros exemplares “caçados”, que eram avidamente lidos, escondidos dentro da própria banca.
Cabelos longos eram sinônimos de maconheiro, marginal, bicha ou subversivo, verdadeiros inimigos internos. Uma simples e descuidada opinião em um bar, poderia ser o passaporte para um recolhimento involuntário e por vezes eterno no DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna).
Bom esse preâmbulo, visa apenas reforçar os comentários do Lucon, na postagem de Casa de Rock. Não era uma época fácil, principalmente para as artes, fossem literárias, gráficas ou musicais.
Mas vamos ao que interessa. O Casa das Máquinas, com o seu 2º LP (Lar de Maravilhas) consolidou o conceito do que deveria ser o verdadeiro progressivo brasileiro. Na minha opinião, foi o melhor trabalho da banda e sem sombra de dúvida alguma, uma das melhores bandas de Rock Progressivo, senão a melhor, que o Brasil já teve.

“Já se pode sentir embora longe, os reflexos de uma revolução biológica, que vai se agigantando a cada momento que passa. A vida esta se modificando. A luz da transformação vem de todos os espaços, vem do infinito, onde máquinas e homens jamais conseguirão registrar ou ver, vem também do interior do próprio homem, onde Raio X de ciência alguma poderá revelar.”
(B.J.Aroldo)

Acredito que o texto acima, retirado da capa interna do LP, seja suficiente para evidenciar o quão estava adiantada a mentalidade dos integrantes dessa fantástica banda. As excelentes letras, os primorosos arranjos e o flagrante virtuosismo dos músicos, são uma constante em todo o LP.
Lamentavelmente, provavelmente por pressão da gravadora (Som Livre) e a nova formação da banda, o Casa das Maquinas não deu continuidade à linha progressiva, dando maior ênfase ao Rock.

Texto: Mercenário